terça-feira, 17 de abril de 2018

A solidão em meio à festa

Nosso bebê havia chegado! Que festa. Quanta comemoração.
Eu, ia e vinha todos os dias da UTI. Nos primeiros dias aliás, sofri muito com as dores da cirurgia. Ficava 10 horas em pé, alternando poucas vezes com o descanso, pois eu queria estar lá! Eu queria que ele soubesse que eu estava lá.
Meu marido me levou e me trouxe vários dias seguidos. Mas ele precisava trabalhar, então quando e senti bem, comecei a ir sozinha. E quando ele podia, me levava de manhã e eu voltava à noite sozinha.
E era um período muito difícil, pq sozinha, eu voltava muitos dias chorando.
Chorava pela impotência de não poder ajudar.
Chorava por ter que deixá-lo lá e ter medo de acontecer alguma coisa na minha ausência (ou por causa dela).
Chorava por ter coração.

E quando as pessoas me viam chorando, ou me ouviam dizer que chorei, perguntavam: "Mas ele não está bem?"
Sim... estava! Mas eu não estava.
Eu estava cansada. Com a mente cansada, com a alma cansada, com o colo vazio!

É muito estranho isso. Enquanto todos estão em festa, você quer ficar sozinha.
Você quer fechar os olhos e dormir até o telefone tocar e você ouvir: o bebê está de alta.

Eu tive que ser paciente e esperar. Na verdade, tive que esperar... a paciência era obrigatória.
Mas como Eclesiastes nos diz: "Melhor é o fim das coisas, do que o princípio delas".

A amizade e a fé

Cheguei ao hospital, era madrugada. Pronto socorro obstétrico, vazio.
Esperei pelo médico que demorou. E que quando chegou, inicialmente foi grosseiro.
Ao fazer o exame de toque, viu que minha bolsa havia furado e que eu estava perdendo muito líquido e me disse: "o bebê terá que ser tirado".
Eu, que tivera um irmão prematuro, lembrei de todo o sofrimento da minha mãe e chorei.
O médico ao me ver chorar, creio que se compadeceu e com isso, tornou-se mais sereno:
- "Não se preocupe! Ele está bem e você também ficará!"
Eu ouvi suas palavras, mas chorava pq não queria que o bebe fosse tirado já. Eu queria que ele esperasse mais um pouco, pois a fase em que eu estava era importantíssima para a saúde dos pulmões dele.
Ele me explicou que eu tomaria duas doses de uma injeção que fariam os pulmões dele amadurecerem, e após isso ele seria tirado. Dois dias!
Dois dias pra minha vida mudar toda.
Não havia mala pronta, nem saída de maternidade, nem lembrancinhas, nada daquelas coisas que uma mãe artesã se sente na obrigação de fazer. Nada! Nem (inclusive) para a própria mãe.
Eu estava com a roupa toda molhada e subi pra internação. Já havia me trocado, então não havia mais nada seco. A enfermeira muito solícita, me deu outra roupa e me ajudou a deitar. Me deu a primeira dose da injeção e até ali, tudo estava bem.
O médico disse que com sorte, se o furo fosse pequeno, a bolsa poderia se fechar e parar o vazamento.
Deitamos e dormimos. E assim foi a primeira noite.
No segundo dia, o vazamento parou. Eu, com esperança, acreditei (enganadamente) que o que médico previu havia acontecido. Mas isso, eu só descobriria no outro dia.
Recebi duas amigas. Aquilo foi uma benção pro meu coração.
Elas oraram por mim e me acalmaram... Conversamos bastante até que a enfermeira entrou e disse que precisava aplicar a segunda dose da injeção. Elas se despediram animadas. E eu, agradecida.
A enfermeira me aplicou a medicação e me mandou tomar banho.
Eu me levantei com muito esforço, ajudada pelo marido.
Ela olhou pra mim e disse: você está preparada?
Eu respondi: Sim. Não gostaria que ele nascesse antes, mas desde que nasça bem e com saúde, estou pronta!
Ela me olhou novamente e disse: pergunto de você está preparada para o pior!
Eu virei o rosto e disse: Não. Vai ficar tudo bem.
Meu esposo não percebeu toda essa conversa e entrou comigo no banheiro. Ao me ver chorando, ele perguntou o que havia acontecido. Não consegui responder nada e comecei a cantar:

"Nunca temer quando as ondas te cercam.
O mestre, está aqui, dissipando o temor.
O mundo diz: acabou!
Ele chega e diz: Só começou.
E nos tempos mals, se na chuva ou raiar do sol:
Nunca temer!"

Ao sair do banho, descobri que haviam solicitado minha transferência de hospital, devido àquele não ter a cobertura que eu precisava. Não vi mais aquela enfermeira. Não chorei mais. O meu coração creu no melhor por nós (e foi isso que aconteceu). 
Na madrugada, eu fui levada à outra unidade hospitalar, onde minha luta recomeçaria. 
Mas o meu menino estava comigo. Firme e forte. E disso, eu não abriria mão de crer!


Os caminhos que a vida tem.

Meu parto foi uma cesariana, pois uma semana antes dele chegar, decidiu se virar.
E na verdade, esta foi a melhor coisa que poderia ter nos acontecido. Pois, de cabeça para baixo (como estava desde o início) com o furo da bolsa, ele teria nascido imediatamente.
Uma noite muito cheia de emoções e medos, mas que de forma alguma ainda foram maiores do que tudo que já vivemos até aqui.
Eu estava no CO esperando para a hora do nascimento dele. Haviam muitas mães ali. Cada uma com seu momento. O meu, era de tomar uma medicação que o protegeria neurológicamente. Jamais tinha ouvido falar a respeito.
Quando perguntei se doeria, a enfermeira que (não sei se irônicamente ou se para me dar mais paz mesmo) era chamada de Jesus, me respondeu que "me faria sentir calor".
Mas que calor, hein? Nossa!! Apenas ali pude ver meus pés incharem.
Depois disso, meu esposo chegou. A paz que tive em ver ele ali, pronto pra me acompanhar, jamais poderei descrever.
Nós que já tínhamos vivido de um tudo juntos, estávamos prontos para o desconhecido. E unidos. Esperando ansiosamente pela chegada do nosso presente.
Sala de parto pronta, lá fui eu pra anestesia. Papai entrou na sala comigo já imóvel. Câmera na mão, pronto pra foto. Vamos lá!
Meu coração estava mais acelerado que bateria de escola de samba.
E de repente, a sala se encheu! De uma vozinha fina e forte, que já nasceu bravo e brigando pela vida.
Cézar chegou. E eu... não o vi!
A enfermeira deu um grito "pai, rápido!"
Papai foi vê-lo, tirou poucas fotos (pq ele tinha que ir para a uti) e voltou: ele é lindo!
Eu tive que me contentar com isso.
Terminaram o procedimento e eu adormeci. Nasceu às 00:03. Acordei às 04 e pouco como quem tomou uma surra! Encontrei o papai dormindo na sala de espera e fomos para o quarto.
No dia seguinte, recebi o café e a enfemeira me disse: coma e vá ver o seu bebê.
Ansiosa, comi desesperadamente rápido, e com toda a paciência, meu esposo me guiou até a uti.
Pra você entrar lá, não é de qualquer jeito. Precisa aprender como se higienizar, como se comportar e etc. Tudo isso pareceu uma eternidade...
Mas aí, ele me pegou pela mão e me levou. Jamais vou esquecer desta cena.
Muitos apitos de monitores constantes... muitas incubadoras! E ele disse: "esse é o nosso bebê!"
O bebê que eu carreguei e que sabia do quanto eu o amava. Era tão pequeno! Eu que já havia esperado tudo isso pra vê-lo, agora precisaria esperar pra poder pegá-lo em meus braços.
Eu que o conhecia de sentir, o vi apenas depois que o pai me apresentou. E esse laço, nunca será destruído. 
Eu sempre falo, que ali foi verdadeiramente a tradução do que Hebreus 11 diz: " Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem" 
Eu não o vi desde o início, e quando o vi, não pude tocar. Quando pude tocar, não pude pegar. Quando o pude pegar, não pude levá-lo comigo... até o dia em que ele recebeu alta!



a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.

Hebreus 11:1
Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.

Hebreus 11:1
Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.

Hebreus 11:1
Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.

Hebreus 11:1"