terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Das agruras, à ternura

Então, estávamos já há mais de 48 horas da bolsa furada.
Sentada na sala de entrada do Pronto Socorro Obstetrício.
Nossa situação, já era sabida.
Cheguei ao hospital com acessos e alguns curativos das medicações já tomadas no outro hospital.
Mas não havia quarto.
Não tinha um local para que eu pudesse me deitar e deixar meu bebê repousar.
Fui atendida ali por um, dois, três médicos... o ultrassom já havia sido refeito e a resposta era óbvia: a bolsa estava vazia de líquidos. Havia apenas o bebê e a placenta.
Mas por quê não tirar o bebê logo? Quais os riscos? Ele estava bem?
Não tive estas respostas, embora meu esposo e eu tivéssemos sentado frente à médica e lhe perguntado diretamente.
Havia riscos? Sim... e esta resposta, ela (insensivelmente) nos deu sorrindo.
Ok.
Voltei à enfermagem e comecei um desesperado pedido por soro. O relógio marcava por volta das 14h. e eu estava ali... insistindo
A enfermeira me disse que ele estava prescrito para mim. Mas, apenas para ser administrado às 18h.
O soro era importante para hidratar o bebê. Eu precisava beber cerca de 3 litros d'água (já havia bebido 5) e do soro.
Eu comecei a pedir a enfermeira que falasse com a médica. Que intercedesse por mim.
Depois de muito vai e vem, ela me disse que seria possível. Acontece que não havia quarto, então agora esta seria a nova desculpa.
Eu parei de frente a ela e disse: não me importa onde eu esteja para isso. Por favor, me dê soro. Eu sento numa cadeira, num canto, na recepção.. eu apenas preciso do soro.
Arrumaram uma poltrona e me colocaram num cantinho.
Ali eu fui medicada, hidratada e me alimentei.
E então, mais uma vez, coloquei a mão na barriga e disse para ele: "Eu sei que você está cansado, mas por favor, dê uma mexidinha pra mamãe saber que você está bem!"
Ele mexeu "pequenininho", e parou.
Eu agradeci com lágrimas nos olhos e lhe pedi que descansasse.
No meio de uma tempestade tão confusa, ele estava se esforçando pra que meu coração pudesse descansar.
E a ternura que invadiu aquele momento, será eterna para mim!
Era apenas ele e eu, uma bolsa de soro num cantinho escuro daquele andar do hospital, e as orações para que ele chegasse bem a este mundo (como chegou!).

Nasci! Mãe

Então, depois de esperar uma vida toda, chegou a minha vez!
Ser mãe.
No meu ventre existia alguém crescendo. Que não pediu licença, mas foi extremamente desejado. 
Chegou como um presente de natal (e talvez por isso, sua descoberta aconteceu apenas no dia 26/12)
E já chegou inundando tudo de muito amor. 
Eu sou uma pessoa festiva.
Adoro primavera, natal, aniversários... mas quando eu soube dele, o mundo parou. E a intensidade que esse período teve, foi muito maior. 
Minha intenção é apenas registrar coisas que aconteceram e que vou me lembrando aos poucos. 
Mas se houver quem tenha interesse em saber também, que esses momentos de leitura possam lhe ser de muito amor.
Nasci menina, sem saber meu nome e nada do meu futuro. Vivi a vida toda esperando por essa ampliação do meu coração.
E quando ele chegou, nasci novamente. Nasci mãe, para uma vida totalmente desconhecida.
Da qual eu jamais abriria mão ou poderia confirmar minha existência se não a tivesse tido!